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Antro - Análise

Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel
Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel

A liberdade humana só consegue existir com limites que a impedem de ser absoluta e se destruir. Ironicamente, é na limitação da liberdade que se reflete o caráter complexo e ambíguo do fenômeno político que conhecemos como autoritarismo. Antro é um jogo que se passa na metrópole de mesmo nome e fala sobre a jornada de Nittch para acabar com o regime autoritário de La Cúpula na cidade. Apesar da sua perspectiva simplificada, ele consegue tecer críticas sociais razoáveis e transparecer a sua mensagem ao longo das duras horas de campanha que oferece.

Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel
Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel

Dimensões subexploradas


Antro é apresentada como uma metrópole subterrânea opressiva e escravagista. A obra deixa claro do início ao fim que La Cúpula comanda a cidade de forma hostil e controladora, cuja justificativa para sua existência é, supostamente, garantir a vida sem a superfície. A construção da cidade e do regime como antagonistas é bem feita, com um bom uso de ironia e sarcasmo. O jogo é explícito o bastante para que não haja dúvida sobre quem é oprimido e quem é opressor, e é sutil nos detalhes, o que ajuda a criar toda a atmosfera que beneficia a ambientação do jogo sem quebrar a imersão.


Entretanto, um aspecto que impede Antro de se destacar nesse contexto é que ele para por aí. Estabelecer uma figura negativa no ponto de vista de um agente externo é importante, ainda mais se este é o protagonista e ele precisa de um motivo para se opor. Só que esse elemento perde força quando só existe a perspectiva do protagonista na maior parte do tempo. Em alguns momentos há justificativas para a criação de La Cúpula, mas é pouco original e, na prática, tudo só corrobora para que o jogador simpatize com a causa do Nittch porque ele é o lado bom dessa história. Ou seja, Nittch é apenas um instrumento para se opor ao mal, que é mau por ser mau.


A problemática dessa construção é o fato de o autoritarismo nunca ser um fenômeno político sobre bem e mal. É político, então há ganhadores e perdedores, há disputa, conflito de interesses. E quais os interesses? Nittch quer destruir um governo autoritário. E o governo é autoritário por conta de justificativas superficiais. Em suma, o jogo perde o potencial de explorar Nittch como um revolucionário porque, efetivamente, ele não tem ideal, apenas é o opositor do mal, que é mau por ser mau, e por isso não tem motivo para não desejar a queda da Cúpula. É uma visão unilateral, o que ironicamente não condiz com a natureza multidimensional do jogo, que é 2.5D, e do teor político do enredo. 

Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel
Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel

Opressão à flor da pele


Feitas as considerações sobre as limitações do enredo, pode-se falar do que Antro tem de melhor: atmosfera. Os gráficos do jogo são simples, mas desde o primeiro segundo o ambiente reforça que é hostil e autoritário. A sensação é que alguém está te vigiando o tempo todo, mesmo que efetivamente não haja ninguém por perto. Todo o cenário contribui para mostrar o quanto a cidade de Antro é ditatorial. É um grande acerto do jogo.


Outro elemento da ambientação que favorece a atmosfera opressiva são as diferenças entre os distritos. Lembrando a estrutura de Stray, Antro conta com três distritos dentre os quais o regime divide seus cidadãos. Apesar da cidade deste jogo não ter a dinâmica de altura que Stray usou, quando há mudança distrital, é nítido pelo cenário e pelo texto que se trata de uma zona diferente, com privilégios e liberdades maiores - ainda que restritos - do que a área destinada para os menos afortunados. A quantidade de seguranças e obstáculos no caminho também condizem com a progressão, quanto melhor o distrito, mais perto da alta hierarquia de La Cúpula, logo é mais difícil avançar.


Todavia, há alguns problemas com a ambientação do jogo que nem os tiranos de La Cúpula foram capazes de esconder. Ela funciona extremamente bem nos segmentos lineares em que temos controle livre de Nittch, porém nas fases musicais, onde ele anda automaticamente e só damos comandos como pular e bater, é comum ter mortes porque não ficou claro que um obstáculo estava logo à frente no cenário, principalmente quando envolve pulos. Infelizmente, alguns segmentos são mais frustrantes do que o esperado por causa desse problema.

Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel
Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel

Ao som da liberdade


A música é um instrumento dos revolucionários em Antro e, felizmente, as fases musicais conseguiram usar muito bem a boa trilha sonora presente no jogo. A letra é coerente com a obra e o Hip Hop grita em nome dos oprimidos. Quem é da América Latina certamente vai sentir impacto com a canção, especialmente quem conhece as histórias das ditaduras como a brasileira, argentina e chilena. Antro também serve, nesse caso, para lembrar que sempre é dia de dizer “Ditadura nunca mais!”.


O único ponto que poderia ser melhor nesse caso é ter como aproveitar melhor a música sozinha. Acaba que, como ela faz parte de um segmento que precisa de uma precisão considerável, quem não tem domínio do idioma vai perder uma parte expressiva da mensagem por dividir atenção com a gameplay, e não tem como simplesmente só ouvir a música no jogo. Uma possível solução seria ter uma opção de gameplay automática desse segmento que permitisse os jogadores ouvir o som dentro do próprio jogo após ter completado a fase musical uma vez.

Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel
Antro - PlayStation 5 - Captura por Athena_Wofel

Vamos derrubar La Cúpula


Antro prometeu um jogo crítico com jogabilidade de plataforma 2.5D rítmica, e foi exatamente isso que entregou. Apesar das limitações que o enredo tem na construção do ideal revolucionário de Nittch e na falta de originalidade na construção do regime ditatorial que vigora na cidade de Antro, a experiência é satisfatória e deve agradar quem gosta de obras curtas e de ambientação pesada. O jogo conta com legendas em português do Brasil e se consagra como uma experiência válida para quem valoriza atmosferas impactantes. 




Análise escrita pela @Athena_Wofel


A cópia do jogo foi cedida pela SelectaPlay

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