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Banishers: Ghosts of New Eden - Análise

Atualizado: 15 de fev.



É comum casais apaixonados falarem “até que a morte nos separe” como uma expressão para simbolizar a força do amor, sendo apenas o fim da vida capaz de romper um laço tão forte. Mas, eu ouso fazer um protesto em relação a esta famosa frase proferida nos mais belos casamentos: o fim da vida significa o fim do amor?


Não vou aprofundar uma discussão existencial a respeito do que acontece conosco após a morte, que fique claro, pois isto é um texto de análise do jogo “Banishers: Ghosts of New Eden”. Faço essa provocação porque quero instigar uma reflexão sobre o que faríamos em um contexto onde a morte não significasse um fim absoluto. Há como manter essa pessoa, trazer ela de volta, mas cada ação terá uma reação e, por consequência, um preço a ser pago.


Pagaria esse preço? Conseguiria dizer adeus? Banishers aborda esses conflitos em um mundo medieval amaldiçoado. E cabe a você, no controle de Red e Antea, lidar com dilemas complexos e desfazer a terrível maldição que assombra toda New Eden.



Bem-vindo a New Eden


O jogo começa com a chegada do casal às terras amaldiçoadas e frias de New Eden. Eles foram chamados para ajudar um velho amigo a banir um fantasma poderoso. Antea foi sua aluna anos atrás, tornou-se uma banidora formidável. Seu marido, Red, ainda é um aprendiz de banidor, ele se destaca pela empatia com os vivos e mortos.


No começo do jogo, a cidade será seu grande tutorial. Recomendo que tenham paciência e leiam os diálogos, conversem com as personagens e leiam os arquivos com atenção. Banishers tem um foco forte em história e, para ter um bom proveito, escolher prestar atenção nos detalhes faz a diferença. Após a conclusão da primeira boss fight, Antea será separada de nós por um tempo. Red seguirá em frente, abalado, mas em breve nós a teremos de volta para dar início a última enorme aventura do casal. 


Na minha visão, a introdução de Banishers ficou um pouco prejudicada pelos trailers. O fato de terem mostrado como Antea morre tira parte da surpresa que a cena poderia ter. Quando esse momento é entregue rapidamente no trailer, o peso dele passa rápido e, no jogo, não surpreende, porque o jogador já sabe o que vai acontecer quando Antea estiver ali. Feita essa consideração, apesar de ser um pouco extensa, a introdução de Banishers consegue mostrar bem as mecânicas de exploração, combate, desenvolve bem as personagens e cumpre seu papel.



Um enredo maduro


Quando soube que este jogo foi desenvolvido pela DON’T NOD, minha curiosidade cresceu muito. Gosto de Life is Strange e Tell Me Why, principalmente de seus personagens. Para mim, esse é o ponto mais forte desses jogos, e também era o nível de qualidade que eu esperava de Banishers. Felizmente, posso dizer que a minha expectativa foi atendida.


Os protagonistas Antea e Red são bem explorados na narrativa tanto como indivíduos quanto como um casal. A maioria das pessoas de New Eden que conhecemos pelas cidades e locais que exploramos, bem como os fantasmas que as assombram pelos mais diversos motivos, são únicos o bastante para que cada quest seja uma experiência diferente.


Comentando brevemente sobre a trama principal, sem spoilers, é notável como o enredo é consistente em relação ao que foi proposto, especialmente no sistema de escolhas. Não senti que nenhuma escolha feita na campanha - na verdade, no jogo todo - foi uma decisão certa ou errada. Na maioria das vezes, hesitei e pensei antes de decidir, e o jogo deu opções e um resultado coerente para a minha resposta.


Por fim, acho necessário ressaltar a qualidade dos arquivos do jogo. Desde os mais simples, como cartas e anotações da população, até as reflexões complexas sobre magia e vida que estão espalhadas pelo mapa, há um acréscimo de camadas ao mundo de New Eden.


Lembro-me de um documento que me convenceu a ascender a maioria dos fantasmas, pois os estudos indicavam que o banimento os direcionava a uma outra dimensão, onde só há dor e sofrimento. Ainda assim, outro documento justificava a prática do banimento de forma incondicional para garantir a segurança dos que vivem. Por mais que o argumento não tenha me convencido, acredito que seria capaz de convencer alguém com uma filosofia diferente da minha. Isso, para mim, é uma prova da qualidade da escrita de Banishers.



Acertaram na gameplay?


Por mais que o foco seja a história, não se pode ignorar a jogabilidade de Banishers. Afinal, um jogo é para ser jogado, a experiência de assistir sempre é diferente. E o que Banishers oferece para jogar? Bem, na minha visão, é possível dividir a gameplay em duas categorias: sistemas de exploração/investigação e desafios de combate.


Sobre o combate, que é o elemento favorito de muitos gamers, Banishers tem inspirações nítidas em mecânicas de RPGs de ação como Dark Souls e principalmente The Witcher 3: Wild Hunt. Não há nada realmente inovador no quesito mecânicas, há ataque leve e pesado, habilidades especiais, variação de dano dependendo do inimigo que você enfrenta, um rifle para ataques de longa distância, um pacote completo.


E claro, a DON’T NOD não esqueceu do queridinho do momento: o parry está presente para a alegria de todos nós! Não é um combate revolucionário, mas é sólido, funcional e divertido.



Mencionei anteriormente desafios de combate. Como funcionam? É simples. No mapa, há pontos específicos onde podem ser feitos rituais para acessar os desafios. Você deve matar uma certa quantidade de espectros ou enfrentar um poderoso flagelo após o ritual.


Pode parecer algo muito simples, mas as condições especiais dão uma sobrevida muito boa a esses desafios. Elas não impedem o seu estilo de jogo, porém, estimulam que você jogue com estratégias diferentes. Assim, você pode tanto mudar seu estilo completamente ou adaptar o seu estilo atual com as condições da luta. Particularmente, achei que adaptar foi mais divertido, pois assim aprendi truques e combinações novas para a minha estratégia principal de combate.


Outro aspecto muito positivo sobre o jogo é que ele sempre enche sua vida e suas poções de cura antes e após um desafio de combate. Isso é excelente, pois além de estimular quem explora com recursos para não precisar voltar até um abrigo, também não pune o jogador que tem dificuldade na hora de explorar e recebe dano com frequência.



O sistema de exploração de Banishers é bastante tradicional. Você tem que encontrar itens escondidos e achar formas de abrir passagens e prosseguir. Para acessar alguns, você precisa de habilidades específicas que são desbloqueadas ao longo da campanha. Então, se algo travou sua exploração, prossiga na história principal tranquilamente que você pode voltar mais tarde.


Como saldo geral, acho que a gameplay de Banishers é muito boa. Não vejo nada de revolucionário, mas tudo que vi está bem feito e é bom.



É um RPG de ação mesmo?


Vale deixar um parágrafo sobre a eterna discussão sobre o que é um RPG de verdade aqui nesta análise, pois é necessário comentar a árvore de habilidades e o sistema de níveis do jogo.


Basicamente, você ganha pontos de evolução quando sobe de nível e ganha pontos de essência quando resolve casos de assombração. Através disso, você pode escolher entre dois ramos de habilidade para usar seus pontos. É possível trocar a qualquer momento, então se tiver dúvida de qual é melhor para você, recomendo que experimente as opções.


Os equipamentos aqui seguem uma linha tão tradicional quanto a exploração, basta encontrar pelo mundo ou cumprir quests para obter. Há uma quantidade grande e, apesar de não ter nada realmente essencial para terminar o jogo, como um limite-breaker ou materia de Final Fantasy, os equipamentos de Banishers, quando combinados de forma adequada, aumentam bem o estrago de Red e Antea contra qualquer inimigo. 


No geral, acho positivo esse sistema, já que o jogo não almeja ser um RPG complexo. Para quem gosta da complexidade, há um conteúdo, para quem não se importa, tudo funciona e você pode ser feliz jogando como achar melhor.



Problemas na jogabilidade


Sobre os problemas da jogabilidade, após concluir o jogo, destaco a repetição constante de inimigos e mecânicas. Para quem só quer zerar, acho que a quantidade e variedade de inimigos já poderia ser cansativa pela duração do jogo, mas para quem almeja o 100%, isso pode facilmente acabar cansando um pouco.


Para servir de referência, zerei o jogo com cerca de 55% do mapa completo, com a maioria das quests de assombração concluídas. Tudo isso jogando por cerca de 41 horas. Acho que pelo escopo do jogo, é esperada uma repetição de sistemas, mas penso que poderiam ter feito um mapa menor, com menos sidequests e, ao invés disso, ter feito mais alguns inimigos, o que já aliviaria a sensação de repetição.


Aliás, também senti que este jogo valorizou pouco os vendedores no geral. Não há nada muito especial para compras nas lojas, o que faz o dinheiro ser um recurso bem desinteressante. Porém, fora estes, não vejo problemas graves na gameplay.



Desempenho no PlayStation 5


Essa seção é mais rápida, com intuito apenas de informar a respeito da qualidade técnica do jogo. O único bug que eu encontrei foi bem inesperado e causado apenas por um momento de grande curiosidade. Na prática, quem está jogando concentrado não deve passar por isso, também não houve falhas graves que comprometessem os saves.


Além disso, o jogo conta com muitos salvamentos automáticos acessíveis através do menu de carregamento no botão de pausa, então caso você tenha algum problema, dificilmente perderá seu progresso. Agora, sobre performance, aqui eu preciso destacar algumas coisas mais sérias. Joguei o jogo do começo de fevereiro até o dia 11, sempre no modo performance. Passei por algumas versões dele nesse período. Em todas, tive quedas de FPS nesse modo. Entretanto, houve melhorias significativas entre as versões que tive acesso e foi assegurado que haverá patch no dia de lançamento. 


Também destaco que, mesmo com as quedas, o jogo não ficou injogável ou ruim em nenhum momento. O pouco que testei do modo qualidade, na minha visão, não teve ganhos significativos tanto de qualidade de imagem quanto de estabilidade na performance, então indico para todos jogarem Banishers no modo performance na versão de Playstation 5.


Um aspecto pequeno, mas que vale a pena ser mencionado, o jogo utiliza o recurso de leds do DualSense em sincronia com a cor do anel de Red. Pode parecer um detalhe descartável, mas como o anel muda de cor quando há itens por perto, acaba sendo uma dica extra presente na sua mão.



Localização problemática


Felizmente, o jogo veio com suporte a legendas em português do Brasil. Entretanto, a legenda tem alguns probleminhas que eu preciso destacar, pois podem prejudicar a experiência de quem não tem acesso ao inglês ou outro idioma.


O primeiro problema é a incongruência nominal presente nos diálogos. Fica nítido que o diálogo foi traduzido ao pé da letra do inglês para o português quando você se depara com um “A Pesadelo” no meio do diálogo. Essa seria uma tradução literal de “The Nightmare”. Você consegue entender o diálogo perfeitamente ainda, mas há uma quebra de ritmo quando esse tipo de erro aparece e, ainda que o português brasileiro não esteja presente em muitos lançamentos, isso não significa que ele não deva ser bem feito como é no idioma original.


O segundo problema é a tradução incorreta de alguns termos. Enquanto eu fazia os troféus de combate do jogo, notei que um deles pedia para que eu derrotasse os inimigos após esquivar. Eu esquivava sem parar e o troféu não vinha. Em dúvida, olhei a árvore de habilidades, onde estava escrito esquiva para ver se eu estava fazendo o movimento correto, e tinha uma animação de parry. Mudei para o inglês e na árvore de habilidades estava escrito parry, e não dodge. Porém, quando eu testei com o parry, o troféu veio tranquilamente. Acho importante a correção desses termos, pois isso pode confundir muito as pessoas.



Acessibilidade


Hoje em dia, é comum ouvir queixas a respeito de acessibilidade em jogos. Seja pela falta dela ou seja pela ignorância de quem não entende a importância desses recursos. O que posso comentar nesse sentido, a respeito de Banishers, é que há muitos recursos úteis e que frequentemente me ajudaram bastante.


Destaco a boa indicação visual sobre quais áreas são acessíveis ou não pela textura do cenário, a indicação visual do Dualsense já mencionada neste texto, a indicação visual do anel de Red tanto no combate quanto na exploração, a indicação sonora da presença de itens, a presença de legendas com customizações e os níveis de dificuldade, que de certo modo abrangem perfis diferentes de jogadores e permitem mais pessoas jogarem.


De modo geral, acho Banishers muito competente no que diz respeito à acessibilidade. Hoje, não tenho competência para fazer uma análise mais profunda do que essa neste tópico, mas acredito que seja um assunto extremamente importante que não pode ser ignorado numa análise, mesmo que seja abordado de forma simples.



Sobre a platina / 100%


A lista de troféus do Banishers conta com 43 troféus, sendo um de platina, três de ouro, nove de prata e trinta de bronze. Uma boa parcela está relacionada a história e são ocultos, então não tem como perder esses troféus. É necessário concluir o jogo com pelo menos dois finais diferentes, os quais variam de acordo com as suas escolhas. Talvez você queira recorrer a um guia para agilizar, mas não acho que valha a pena comprometer as surpresas da primeira jogada só para adiantar esses troféus.


Os troféus de combate do jogo são simples e não há exigência sobre dificuldade. Fiz eles na dificuldade “Difícil” e não tive problemas, porém acredito que seja possível fazer mesmo na dificuldade mais fácil. 


Por fim, há troféus de coletáveis que vão exigir uma vasta exploração do mapa, além de cumprir diversas sidequests, algumas de formas específicas. De modo geral, gostei muito da lista de troféus de Banishers e recomendo a platina.



Conclusão


Banishers: Ghosts of New Eden é um excelente jogo de narrativa e aventura com elementos divertidos de RPG de ação. Apesar dos problemas de repetição, tradução e performance mencionados, as principais qualidades do jogo - sua narrativa, suas escolhas e personagens - roubam os holofotes aqui. Não me casei com esse jogo, mas é com um sorriso no rosto que escrevo esta frase: levarei essa jornada sobre amor comigo até que a morte nos separe. Vida aos vivos, morte aos mortos. Jogue Banishers: Ghosts of New Eden.





Análise escrita por Athena (@Athena_Wofel)

A cópia do jogo foi cedida pela Focus Entertainment






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