top of page

Prince of Persia: The Lost Crown - Análise


Quando o assunto é franquias que tiveram sua glória no passado e mereciam mais oportunidades para brilhar, Prince of Persia certamente é um dos maiores exemplos. Com mais de uma década desde Prince of Persia: The Forgotten Sands, já estava na hora da franquia voltar e, quando finalmente um novo título foi anunciado, com The Lost Crown, não foi o que muitos queriam, mas era o que a franquia precisava.


Prince of Persia: The Lost Crown foge muito do que estamos acostumados na série. Para começar, ele é um jogo de ação e aventura de plataforma 2D que se encaixa no sub-gênero metroidvania, mas em essência consegue reter muito do que fez a saga ser única: ambientação ímpar com grande foco na cultura persa, ênfase em exploração, seções de plataforma, combate rápido, quebra-cabeças e, óbvio, os poderes que envolvem controlar o tempo.


O jogo foi desenvolvido pela Ubisoft Montpellier, responsável pelos aclamados Rayman Origins e Legends, e isso sozinho já era um sinal de que a franquia estava em boas mãos. Mas aqui eles foram além e entregaram algo genuinamente especial.


Sargon e os Imortais


A história gira em torno de Sargon, o membro mais novo dos Imortais, um grupo de guerreiros que protege Pérsia sob as ordens da rainha Thomyris. Uma traição acontece e o príncipe é sequestrado, então rapidamente os Imortais são convocados e incumbidos de ir atrás do príncipe. Isso os leva a uma cidade ancestral chamada Mount Qaf, que esconde muitos segredos, onde o tempo flui de formas diferentes, resultando em várias anomalias temporais que irão testar Sargon.

A história é boa e intrigante, mesmo com o gameplay sendo o foco. Sargon é um ótimo protagonista, apesar de no início ele ter uma personalidade um pouco arrogante e ser meio inexperiente. Ele cresce durante a jornada. Acompanhamos seu amadurecimento e isso ajuda muito a criarmos empatia por ele. Outro ponto positivo são os personagens secundários, que são muito carismáticos e com visuais bem distintos e marcantes. Todo esse universo criado para o jogo é interessante e complementa muito bem a estrela do show: o gameplay.


Areias de Sangue


Logo de cara o jogo mostra uma grande ênfase no combate, e nos primeiros minutos já é possível sentir o quão responsivo e prazeroso esse sistema é. De início já temos muita mobilidade e vários ataques, e de imediato somos apresentados ao sistema de parry, que além de muito prazeroso é extremamente importante no combate. Toda a parte visual brilha bastante durante as lutas, com lindos efeitos e finalizações muito estilosas. Pouco depois somos introduzidos às mecânicas de travessia, que, assim como o combate, são muito responsivas e plásticas, com animações fluidas e visualmente atraentes. Tudo isso como ponto de partida já é muito mais do que vários jogos do gênero, e mesmo assim no final da jornada o combate e mecânicas vão pra outro patamar em questão de complexidade. É difícil lembrar um jogo do gênero com um combate tão polido e completo, e isso também se aplica aos poderes.

O gênero metroidvania virou algo recorrente na indústria. Todo ano temos vários títulos de qualidade variável e muitos desses jogos seguem à risca uma fórmula de progressão similar onde os poderes não tentam ser criativos e diferentes. Isso acaba ficando repetitivo, mas felizmente aqui não é o caso. A fórmula ainda está aqui (nos deparamos por caminhos que não temos acesso, e ao ganhar um novo poder, finalmente podemos chegar em novos lugares), mas The Lost Crown é bem mais criativo no uso desses poderes. Eles se encaixam nos temas do jogo e cada poder tem mais de uma função, com todos eles sendo incrementados de forma muito inteligente no combate, principalmente nos chefes. 


As areias do tempo


Um dos pontos mais altos do jogo são com certeza seus chefes. Todas as lutas são extremamente impressionantes, tanto mecânica quanto visualmente, e é raro ver lutas tão boas nesse tipo de jogo. São um espetáculo à parte, que te desafiam e te fazem usar todas as suas habilidades até aquele momento. Várias delas têm apresentações super exageradas da melhor forma possível, fazendo claras referências a personagens de jogos famosos como Devil May Cry e Elden Ring. Em um jogo tão redondo e bem feito, essas lutas ainda conseguem se destacar muito.

Apesar de alguns chefes serem difíceis, Sargon tem muitas ferramentas para superá-los. O jogo conta com amuletos que dão algum tipo de bônus passivo ou até alguma habilidade diferente, seja colocar elemento de fogo nas suas flechas ou te dar um acréscimo de vida ou defesa. Esses amuletos geralmente estão escondidos nas seções de plataforma mais difíceis do jogo, partes em que você será muito testado e com algumas necessitando de vários dos seus poderes. Muitas das vezes a recompensa pode valer a pena, sendo um item para aumentar a força das suas espadas ou arco, um dos amuletos citados, algum coletável com lore sobre o mundo ou algo para avançar em uma das sidequests, mas às vezes receber uma skin que muda a cor da sua roupa após vários minutos de tentativas pode trazer um pouco de frustração.


Esplendor da Pérsia


Outra coisa que faz o jogo se destacar dos demais é o valor de produção. Vindo de uma empresa tão grande como a Ubisoft, era de se esperar um produto mais sofisticado, e eles entregam justamente isso. Existem diversas animações únicas para cada inimigo, vários tendo animações próprias quando você realiza um aparo quando o inimigo brilha em dourado, em que eles liberam uma mini cutscene dando contra golpe letal, e isso nunca perde a graça. Sempre que aparecia um novo inimigo era uma chance nova de ver essa animação. E falando em inimigos, o jogo tem uma galeria massiva, que faz cada cenário parecer único e o jogo não ficar cansativo em nenhum momento.


A diversidade de cenários e o quão bom é o level design também auxiliam nessa ótima sensação de progressão e falta desse cansaço que pode ser comum nesse gênero. Os mapas se interligam de uma forma muito orgânica e, apesar de serem complexos, você não se sente perdido a ponto de ser frustrante, então o balanço perfeito foi encontrado. Quanto mais eu avançava no jogo, mais impressionado eu ficava, já que em muitos aspectos ele é um metroidvania perfeito, executando tudo que esse gênero pede com maestria, pegando essa fórmula e refinando-a ao extremo.


O jogo ainda conta com algumas side quests e a maioria se baseia em caçar coletáveis durante a aventura ou derrotar uma série de inimigos específicos. Elas em si não são nada demais, porém é uma boa adição que te incentiva a explorar mais o mapa, além de as recompensas geralmente serem boas e os personagens chave dessas quests serem excêntricos e divertidos.

Uma adição muito útil é a habilidade que guarda uma foto da sua localização no mapa. Isso facilita muito lembrar do local daquele baú de tesouro que você não conseguia acessar horas atrás. O jogo também traz uma gama robusta de opções de qualidade de vida e acessibilidade, podendo escolher a dificuldade, usar um modo guiado para saber onde ir e até facilitadores no combate e sessões de plataforma, além de contar com muitas opções para pessoas com deficiências.


É uma obra muita coesa em sua totalidade, mas às vezes você se indaga se ele não podia ter tentado inovar mais dentro do gênero, porém tudo que entregaram aqui tem uma qualidade tão alta que isso fica sendo somente um detalhe. O que não é um detalhe são alguns dos bugs que tive durante o jogo. Talvez eles sejam corrigidos até o lançamento, mas houve algumas lutas em que o Sargon caiu do cenário e só voltou após o chefe usar uma habilidade especial. Em outros casos os inimigos ficavam congelados em alguns lugares, e as animações do Sargon ficavam travadas. Apesar de terem sido raros, esses problemas existiram, mas felizmente a performance é muito sólida e não notei nenhum problema, então o jogo é sim muito polido.

No fim, Prince of Persia: The Lost Crown não só é um retorno triunfal da franquia, como é um dos melhores jogos do gênero e entende muito bem como respeitar seu tempo e criar uma experiência concisa do início ao fim. Ele sabe muito bem adicionar os aspectos cruciais da franquia em um novo contexto e ao mesmo tempo fazer algo diferente. A história, apesar de não ser nada digna de prêmios, é sim muito boa, te faz se importar com o que está acontecendo e principalmente entender as motivações do personagem. Esse é um jogo em que sua excelência, comprometimento e visão surpreendem por vir de um estúdio AAA. É um jogo altamente estilizado, cheio de liberdades criativas, e executa tudo com uma confiança tão grande que é difícil não terminar e se sentir totalmente satisfeito.





Análise feita por Gustavo (@Ceythian)

A cópia do jogo foi cedida pela Ubisoft LATAM



bottom of page