Análise feita por Gustavo (Ceythian)
É inegável que estamos vivendo uma era dominada por super heróis em quase todas as mídias. Assim como com qualquer tema, quando há excesso, há saturação, e nos games não tem como ser diferente. Gotham Knights desde sua premissa tinha muito o que provar. Além de inevitavelmente estar nas sombras da série Arkham, ele teve o azar de sair após vários ótimos jogos do gênero e ainda utiliza um modelo de mundo aberto ultrapassado sem ao menos tentar desafiar essa receita que, apesar de criativamente rasa, se mostra uma aposta segura para lucrar. É uma experiência que tenta usar a morte do Batman para criar algo interessante, mas acaba mostrando que talvez esse tipo de jogo merecesse seguir o mesmo destino do herói de Gotham.
A ideia: Batman está morto, o que é algo corriqueiro nos quadrinhos, mas inexplorado em um jogo, podendo dar mais atenção à bat-família, pois convenhamos, trazer novamente o Batman sem a Rocksteady seria uma ideia estúpida em sua concepção, mas a propriedade intelectual é grande demais para ser abandonada. Gotham Knights tenta de muitas maneiras criar sua própria identidade, mas nunca passa da tentativa. A sensação de ser uma versão inferior do que veio antes nunca desaparece, nem mesmo deixando bem claro que são universos diferentes, pois isso é algo que vai além do mundo do game. É algo inevitável de se comparar na indústria: uma versão melhor em tudo que esse jogo faz já existe dentro do seu próprio gênero de super heróis.
O maior problema do jogo é a falta de foco. Ele tenta muitas coisas ao mesmo tempo, mas não se compromete com nenhuma. Usa de um sistema de combate que se assemelha à trilogia Arkham, mas que não tem nem de longe a mesma qualidade e variedade. É um sistema que faz o mínimo para ser engajante, sendo um dos melhores aspectos do game, mas isso não diz muito, já que com poucas horas se torna repetitivo. Os diferentes personagens deveriam contribuir para uma diversidade maior, mas o jogo não te incentiva a usá-los. Na verdade é o contrário, pois apesar do progresso entre os heróis ser compartilhado, isso não se aplica a tudo. Um exemplo que é uma das piores decisões do jogo foi deixar a habilidade de planar (algo essencial nos jogos do Batman) presa atrás de 10 quests de crimes pelo mundo, além de que justamente essa melhoria não é compartilhada, então para desbloqueá-la com todos os personagens são necessárias 40 dessas missões e isso acaba tirando a vontade de ficar alternando periodicamente.
Aprofundamos um pouco mais no combate: ele consiste em ataque fraco, ataque forte e ataque a distância. Isso se aplica a todos os personagens e o que os diferenciam são as habilidades especiais que ficam disponíveis após carregar uma barra durante as lutas. Os personagens também têm cada um uma vantagem única. Asa Noturna pode eliminar inimigos grandes silenciosamente; o Capuz Vermelho, agarrá-los e assim por diante. Apesar dessas diferenças, o combate permanece o mesmo, com inimigos repetitivos e as poucas alterações entre as facções presentes no game ou são cosméticas ou não são o suficiente para alterar muito os encontros. Inimigos grandes são derrotados usando ataques fortes e esquivando de seus ataques que brilham em vermelho; sua variante de escudo não apresenta uma grande diferença também e isso se repete em quase todos os tipos de inimigos.
O game também lhe dá a opção de encarar os confrontos de forma silenciosa, mas é tão raso que nem há muito no que se aprofundar. As opções são mínimas e os inimigos são completamente alheios à sua presença, criando situações ridículas onde você passa na frente deles e nada acontece. Usar stealth é quase um modo fácil para "quebrar" o jogo, o que é uma pena, pois se fosse melhor desenvolvido poderia ajudar a amenizar a repetição dos confrontos.
O jogo também conta com um modo co-op para até dois jogadores, o que é uma decisão estranha para um jogo com quatro personagens à disposição. O co-op é apenas uma opção, não sendo requerido em nenhum momento durante o jogo, mas é uma boa adição, pois é divertido patrulhar Gotham com um amigo. Ajuda a aliviar a repetição dos objetivos.
Outro grande erro são os elementos de RPG. Cada peça da sua armadura e equipamento de combate tem um nível e status diferentes. Durante as batalhas e exploração, você coleta recursos para construir novas peças. É difícil tirar a sensação de que tudo isso seja uma perda de tempo, onde nada é relevante para o combate tirando os números, e isso se agrava ainda mais quando algumas missões principais têm um nível mais elevado que o seu e prosseguir sem fazer as missões secundárias pode resultar em batalhas frustrantes que levam mais tempo do que deveriam, fazendo o combate que já é repetitivo se tornar quase insuportável. Isso poderia ser aliviado se as atividades no mundo aberto fossem interessantes e variadas, mas todas caem na mesma repetição que estamos acostumados em jogos do gênero. Quase tudo envolve bater em hordas de inimigos, e as poucas que tentam ser diferentes como investigar uma cena do crime são tão rápidas e mal desenvolvidas que não agregam muito.
Andar com sua moto pelas ruas de Gotham pode ser divertido no começo, já que controlar a moto é uma das poucas coisas que o jogo faz bem, porém logo fica cansativo porque te fazem viajar longas distâncias a cada missão e algumas são tão curtas que parecem uma viagem perdida só para ter que voltar à sua base e iniciar outra missão.
A história era o aspecto mais promissor, porém é mais uma coisa que não atinge todo o seu potencial. A relação entre os personagens é boa, e vê-los lidando com a morte do Bruce é muito interessante, mas a trama em si não consegue acompanhar isso, sendo totalmente previsível e sem pontos altos. Os vilões não são memoráveis e em nenhum momento a história parece ter a relevância e importância que os personagens tentam te convencer que tem. A impressão que dá é de que a história não passa de uma edição semanal dos quadrinhos do Batman que você lê e esquece horas depois.
No fim, Gotham Knights é somente uma sombra do que poderia ser. Tem um sistema de equipamentos que mais atrapalha do que serve algum propósito; tem um mundo morto e sem nenhum esplendor visual, além de muitos problemas de performance que atrapalham muito a experiência. E tirando a caracterização dos personagens, o que poderia ser uma boa história acaba sendo clichê e nada memorável. Infelizmente, é um jogo que erra em quase tudo que se propõe a fazer e o pouco que consegue acertar não é o suficiente para justificar sua existência. Poucas vezes algo relacionado ao universo do homem morcego foi tão esquecível.
Gotham Knights foi gentilmente cedido pela Warner Bros. Games
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