Recentemente, eu comprei o meu primeiro Playstation 3. Após realizar as configurações básicas do video game, fui na PSN atrás de algum jogo para testar, já que o jogo que veio com ele não era do meu interesse. Para a minha felicidade, encontrei o meu amado Plants vs. Zombies Garden Warfare por um preço bacana. Comprei e sai jogando feliz! Eu amo tanto esse jogo, foi um dos grandes atrativos que me vendeu um Xbox 360 há 10 anos, uma franquia que está comigo desde o clássico tower defense, eu até divido aniversário com ele. Mas, espera, jogar um jogo que eu já joguei em um video game novo? Qual o sentido disso?
Pois é, eu acho que a ideia de jogar mais vezes os jogos que nós amamos tanto não é só boa, como também necessária. Não vou levar em consideração dilemas sobre dinheiro nessa discussão. Acredito que a ideia de “fazer o dinheiro valer” não é compatível com a apreciação de uma arte, e jogos são arte. Se a ideia fosse só fazer valer o investimento, era só todo mundo jogar apenas Monster Hunter para o resto da vida. Por mais importante e determinante que seja o preço para o acesso aos jogos, ainda mais no Brasil onde tudo é muito caro para quem tem menos, eu acredito que é ruim caminhar nessa estrada nebulosa. Ela abre portas muito perigosas para um conjunto de ideias anti-arte, onde a arte não tem valor humano algum e é apenas uma mercadoria descartável com um preço definido no mercado. Penso que é uma porta que deve permanecer trancada.
Mas, por que rejogar? Em primeiro lugar, destaco que um bom jogo não perde suas qualidades após ser zerado. Todo o conteúdo do jogo que te divertiu tanto continua lá e tem potencial para continuar te divertindo. Então, o primeiro motivo para rejogar jogos é se divertir de novo. Outro aspecto que muitas vezes é utilizado como argumento para não rejogar títulos incríveis é o custo de oportunidade de conhecer uma nova obra, a famosa frase “eu poderia terminar um jogo novo ao invés de um que eu já joguei” e suas derivadas. Mas, veja bem, não é porque você completou um jogo que você conhece tudo dele.
Para zerar Super Mario 64, você precisa de 80 estrelas (se você souber fazer alguns glitches, até menos), o jogo tem 120. Se a crítica é por conteúdo repetido, só neste exemplo, você teria pelo menos 40 estrelas diferentes para conhecer, cerca de 33% do conteúdo do jogo. Você também tem o remake do Super Mario 64, com 150 estrelas, personagens novos, estrelas reimaginadas. Fica claro que o segundo motivo, o potencial de conhecer mais de uma obra que você já gosta, é mais forte que o custo de oportunidade. Como terceiro ponto, platinadores poderiam alegar que não há conteúdo novo, já que fizeram o 100% do jogo. Ainda que seja questionável atribuir 100% à lista de troféus, como platinadora, tenho um argumento contra essa fala: replatinar um jogo é diferente de platinar. Por exemplo, quando joguei Dark Souls 1 pela primeira vez, levei 77 horas para platinar. Na segunda vez, foram cerca de 35 horas. Nas duas jogadas, tive experiências muito distintas, usei builds e armas diferentes, minha impressão sobre os chefes mudou. Como joguei em plataformas diferentes, tive o privilégio de ter acesso a uma lista nova de troféus para completar.
Portanto, eu acredito que mesmo quem caça troféus tem muito a ganhar jogando mais uma vez cada título, afirmo isso como gamer e como platinadora. Por fim, meu argumento final é sobre a interação entre jogador e a arte (o jogo). A pessoa que joga no passado é uma, a pessoa que rejoga no futuro é outra. O tempo nos transforma e o contato com mídias novas impacta a forma como enxergamos o mundo e entendemos as coisas. Com video games, também é assim. Eu achava Dark Souls 3 o mais fácil da trilogia pelo quão simples que foi completar ele em 2022. Hoje, após rejogar toda a trilogia, ainda que eu ache os chefes do Dark Souls 3 bem tranquilos, reconheço que a complexidade maior das suas quests adicionam camadas de dificuldade que são maiores que as vistas em Dark Souls 1 e Dark Souls 2. A passagem do tempo e o contato com outras obras me possibilitaram contemplar os jogos de forma diferente quando joguei eles pela segunda vez. Então, acredito que meu último argumento, a possibilidade do jogo já zerado proporcionar experiências novas com conteúdo que já foi visto uma vez é tão válido quanto os anteriores.
Rejogar um jogo é tão mágico quanto jogar a primeira vez. É um momento onde a arte pode se apresentar de novo, ela ganha novas camadas, fica sujeita a novas interpretações e pontos de vista que não seriam possíveis antes. É necessário rejogar para valorizar ainda mais tudo aquilo que amamos nos jogos que nós completamos. Os jogos novos não são desvalorizados por isso, a experiência que adquirimos com o que jogamos antes certamente irá impactar os jogos novos. Encerro este texto recomendando a todos que rejoguem mais os jogos que vocês amam.
Texto escrito por Athena (@Athena_Wofel)
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