Dreams of Another - Análise
- Murilo (@Murilo_Valim)

- 16 de out.
- 3 min de leitura

Você já deve ter acordado de um sonho tão bom que chegou a tentar dormir novamente para que ele continuasse, certo? Infelizmente não é exatamente assim que as coisas funcionam.
Assim como nos nossos sonhos, em Dreams of Another a sensação como jogador é de que você não tem controle de quase nada. O jogo é uma experiência extremamente individual e isso me fez pensar que poucas vezes na vida eu senti tanta dificuldade de falar sobre um jogo sem simplesmente recomendar que a pessoa jogue e tire suas próprias conclusões.

Destruir é necessário
A premissa “não há criação sem destruição” dá vida à mecânica de atirar para criar, já que aqui você materializa objetos e cenários inteiros simplesmente atirando contra os amontoados de bolhas espalhados pela tela. O visual lembra bastante outro corajoso jogo, Dreams, da Media Molecule, mas as semelhanças param por aí. Aqui, o que você cria já está definido. Você materializa para viver a jornada do “homem de pijama” enquanto ele entende, com reflexões filosóficas, e muitas vezes através do que objetos, o seu passado. E tudo isso com uma belíssima estética fantasiosa.
Aqui, muito do que você entende do universo vem da interação que você terá com esses objetos, que vão te contar as mais variadas e inesperadas coisas. Muitas vezes as que parecem mais simples, são as que mais possibilitam reflexões.
O jogo tem um texto simples, porém muito profundo, a depender da bagagem do jogador. Vários são os temas tratados e eles vão conversar de forma bem diferente de acordo com o que você já vivenciou na vida. Perda, liberdade e até exploração são temas que serão abordados. Essas nuances constroem uma identidade muito sólida. Não há nada muito parecido com Dreams of Another que eu tenha jogado nessa indústria. E isso, por si só, já deveria ser motivo de celebração por parte daqueles que muitas vezes reclamam da mesmice da indústria e da falta de inovação, de risco.

Enquanto percorremos a jornada do homem de pijama, existem vários personagens interessantes como o Soldado Errante, o palhaço Cricket e os interessantes peixes que buscam por liberdade. Cada um deles carregados de simbolismo e reflexões que parecem muito mais questões do passado do homem, ou talvez do nosso, como jogador. A sensação de que não existe uma coerência narrativa pode ficar forte em alguns momentos, mas quem disse que é preciso ter tudo mastigado o tempo todo?
O ato de jogar
Em Dreams of Another, a dificuldade é praticamente inexistente. Muito pouco se faz com o uso da mecânica de atirar para construir. Você vai atirar em objetos flutuantes e vencer alguns conflitos que não se quer podem ser chamados de batalhas. Essas “almas” flutuantes, que são manifestações dos objetos que você vai cruzar o caminho, também não oferecem dificuldade.
Nada de grandioso é feito em termos de arsenal ou melhorias. Você vai ter acesso às granadas, que possuem a mesma função da arma principal, e até a um lança-foguetes, mas sem nenhum tipo de profundidade de gameplay que obrigue você a utilizar as adições. A melhoria mais significativa é a corrida com o personagem. Ela quebra um pouco o ritmo lento da movimentação do protagonista e, assim como as novas armas, pode ser desbloqueada entregando itens ao saldado errante.
A trilha sonora, também criada por Baiyon, diretor do jogo, acompanha os belíssimos visuais, muitas vezes desfocados e oníricos, para criar a sensação perfeita de estar vivendo dentro de um sonho em uma obra muito consciente do que quer ser.

Apesar de não brincar mais com sua ótima mecânica ou apresentar uma diversidade de situações que o tornem ainda mais interessante em questão de gameplay, o jogo entrega uma das mais diferentes experiências que vivi nos últimos anos. Ele é silencioso e filosófico, diferente do que muitos podem esperar. Eu diria que ele se encerra exatamente como começou, aberto às interpretações que vão variar de acordo com o que cada pessoa carrega.
Assim como um momento de um sonho interrompido, Dreams of Another não necessariamente vai te levar para onde você quer, mas eu adoraria ter a coragem dele todas as vezes que deitar para dormir e me permitir sonhar.

A análise foi escrita por Murilo (@Murilo_Valim) A cópia do jogo foi cedida pela Q-Games





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