Você já deve ter ouvido falar sobre o ser humano perder criatividade com o passar dos anos conforme envelhece. Sobre perdermos também nossa proximidade com o lúdico. Bom... Talvez Sackboy: A Big Adventure tenha algo a dizer sobre isso.
Desenvolvido pelo competente estúdio Sumo Digital, que é parte de um grupo recentemente adquirido pela Tencent, o jogo foi uma das cartas de lançamento do PS5, mesmo não sendo exclusivo da nova geração, e segue recebendo conteúdo até hoje. Não é errado dizer que o jogo é um spin-off da série LittleBigPlanet, da Media Molecule, um dos estúdios mais interessantes e criativos da Sony, responsável pelo genial Dreams, foco do estúdio enquanto A Big Adventure estava sendo criado.
A PlayStation é conhecida por não ter uma mascote principal, mas isso não significa que não tenha algumas com boa relevância. Ratchet, Astro Bot e Sackboy são os principais exemplos. Um Lombax, criatura amável e peluda, um robozinho carismático e um bonequinho amigurumi que parece ter saído de um ateliê de fantasia.
Essa diversidade é ótima e algo que me agrada muito. É possível gostar de todos ao mesmo tempo sem nem mesmo compará-los. Perceba que não existe uma rivalidade entre eles na indústria. Imagine se existissem dois robôs mascotes ou dois bonequinhos amigurumi. A comparação seria inevitável. Fiz essa reflexão apenas para mostrar que acho Sackboy um excelente representante da PlayStation. Tem seu espaço. Com o novo jogo ele foi utilizado de forma estratégica em um momento que a plataforma precisava de diversidade de gêneros e de apresentar uma biblioteca para quem pretendia comprar o console.
Assim como em seus antecessores, não existe muito segredo na história do jogo. Seu objetivo é salvar o mundo da ameaça de um vilão conhecido como Vex, que raptou todos seus amigos - ou quase todos - para transformar o mundo em um lugar sem vida e nebuloso. Ele vai te atormentar durante toda sua jornada e apresentar desafios bem interessantes com batalhas que apresentam mecânicas muito legais e que chegam a exigir um pouquinho do jogador.
É uma história contada com a maior simplicidade possível, mas com toques muito significantes de personagens como Scarlet, mentora de Sackboy e última representante dos Knitted Knights (depois de muito sofrimento, você também pode se tornar um). Meu destaque aqui fica para a absurda qualidade da dublagem da personagem, feita pela atriz britânica Dawn French. Na época do lançamento, a PlayStation chegou a publicar um ótimo vídeo dando destaque para o trabalho dela no jogo. Além de essencial na grande aventura do protagonista, Scarlet é uma personagem potente, tocante e um tanto quanto misteriosa. A cada encontro, ela deixa palavras de ensinamento e de resistência.
Diferente de LittleBigPlanet, aqui não existe um modo para construção e compartilhamento de fases. O jogo é focado em entregar uma campanha de qualidade com fases que possuem level design incrível. Sem sair do seu estilo, ele consegue entregar diferentes experiências em suas mais de 50 fases. Eu poderia citar como exemplo as que usam a música como parte da mecânica, onde o ambiente reage ao ritmo da música tema. É como se você tivesse que encontrar a batida perfeita para percorrer aquela fase em seu ritmo. Tudo muito bem pensado e executado enquanto o jogo te esfrega na cara uma utilização de cores tão incrível que a sensação é de tudo ser muito artesanal.
Além da identidade visual única e bem executada, o jogo é, musicalmente, impecável. Se você aproveitar essas fases no modo co-op, tudo fica ainda melhor. É normal que você e a outra pessoa não consigam criar sincronia em algum momento e a fase fique ainda mais divertida com uma pitada de caos. Sobre o excelente multiplayer, é legal destacar que todas as fases podem ser jogadas em dupla e que existem algumas que são exclusivas desse modo.
Existem também alguns troféus que só podem ser conquistados dessa forma, mas a dificuldade deles é bem tranquila. Eles deixaram o sofrimento para o desafio final do Cavaleiro Tricotado, que consiste em passar por todos os desafios do jogo, interligados e sem pausa, dentro de um tempo limite e sem morrer. Eu devo ter perdido uns 2 anos de vida ali de tanto passar raiva.
Mas voltando ao que é agradável, enquanto você explora o mapa do mundo, que dá acesso às fases e aos outros mundos, a música tema vira e mexe te lembra o quão importante é ter uma boa música enquanto joga. O quanto é importante que ela converse com o que você está vendo na tela e complemente a experiência.
Falando em música, um remix da incrível Baianá, música brasileira, foi utilizado em uma das fases mais legais do jogo. É impressionante como essa música representa culturalmente bem nosso país. Eu realmente gosto muito dela. Se você já visitou o estado da Bahia alguma vez na vida, talvez ela faça ainda mais sentido para você.
A música é cuidadosamente pensada para cada planeta que você visita, e por falar neles, talvez sejam a melhor parte do jogo para mim. Eles possuem temas bem distintos que acabam renovando sua experiência fazendo com que cada visita pareça um novo ciclo. Você vai passar por um reino na selva que é baseado na floresta amazônica, mergulhar em um oceano profundo que traz efeito de água invejável para muito jogo AAA, visitar o centro do Craftworld, entre outros. O jogo não fica cansativo em nenhum momento.
O destaque fica para The Interstellar Junction, o mundo sci-fi do jogo. Lá foi onde eu mais usei o ótimo sistema de personalização de visual que o jogo oferece. Quanto mais cyberpunk minha roupa e meus acessórios me faziam parecer, melhor. Tirei ótimas fotos por lá.
A nova grande aventura de Sackboy é competente em tudo que faz. Quando o assunto é explorar o hardware, faz bom uso do SSD do PS5 com loadings muito rápidos. A nova geração ajudou também a melhorar as texturas do jogo, deixando o visual dos personagens absurdamente detalhados ao ponto de ser possível perceber cada fiozinho espetado de Sackboy. As expressões faciais que sempre foram marca registrada do personagem, que é bastante minimalista, estão melhores do que nunca.
Sackboy: A Big Adventure é a liberdade criativa que a Sony ficou conhecida por oferecer aplicada em um jogo que usa uma fórmula já bastante conhecida, de um gênero também muito conhecido, mas faz tudo com muita competência. É um respiro criativo e agradável em meio a uma enxurrada de jogos com temáticas mais pesadas e maduras.
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